Um poema para a Ana e o Nuno. A vocês devo o facto de estes versos que aqui transcrevo e traduzo fazerem hoje muito mais sentido do que fariam antes de vos ter conhecido. Há encontros felizes que não se explicam... Com muito carinho e amizade. Alice
FRÈRES DE TERRE
Je n’ai pas de frères de race, j’ai des frères de condition, des frères de fortune et d’infortune, de même fragilité, de même trouble et pareillement promis à la poussière et pareillement entêtés à servir si possible à quelque chose, à quelqu’un, même d’inconnu, à quelque frère de même portée, de même siècle, ou d’avenir….
Je n’ai pas de frères de race, ni de religion, ni de communauté, pas de frères de couleur, pas de frères de guerre ou de combat, je n’ai que des frères de Terre secoués dans la galère des espoirs et désespoirs des mortels embarqués, des frères de rêves partagés et de peurs trop communes.
Je n’ai pas de frères de race, j’ai des frères de condition, bien différents et très semblables, d’ailleurs terriblement interchangeables dans l’égoïsme ou dans la compassion… Des frères tout pétris de l’envie de partager leur solitude avec le pain et parfois le bonheur insigne d’apprendre ensemble à dire non…
Je n’ai pas de frères de race, mais des frères dans le refus de n’être qu’un passant, des frères par l’art et par le chant, et l’énergie déployée chaque jour à tenir tête au néant. Des frères à travers les âges, la géographie et les frontières, - et qui sait même, au-delà de l’espèce, peut-être un frère en tout vivant…
Michel Baglin Un présent qui s'absente. Editions Bruno Doucey
IRMÃOS DE TERRA
Eu não tenho irmãos de raça, tenho irmãos de condição, irmãos de fortuna e de infortúnio, de idêntica fragilidade, de idêntica inquietação e igualmente prometidos ao pó e igualmente obstinados a servir para alguma coisa se possível, servir alguém, mesmo desconhecido, qualquer irmão da mesma lavra, do mesmo século, ou de um tempo por vir…
Eu não tenho irmãos de raça, nem de religião, nem de comunidade, não tenho irmãos de cor, nem irmãos de guerra ou de combate, só tenho irmãos de Terra sacudidos na galera das esperanças e desesperanças dos mortais embarcados, irmãos de sonhos partilhados e de medos demasiadamente comuns.
Eu não tenho irmãos de raça, tenho irmãos de condição, bem diferentes e muito semelhantes, aliás terrivelmente intermutáveis no egoísmo ou na compaixão… Irmãos amassados pela vontade de partilhar a sua solidão com o pão e por vezes a felicidade insigne de aprenderem juntos a dizer não…
Eu não tenho irmãos de raça, mas irmãos na recusa de serem apenas seres passantes, irmãos pela arte e pelo canto, e pela energia expandida em cada dia na resistência ao abismo. Irmãos através das idades, da geografia e das fronteiras, - e quem sabe, para além mesmo da espécie, talvez um irmão em tudo vivo…
Um poema para a Ana e o Nuno. A vocês devo o facto de estes versos que aqui transcrevo e traduzo fazerem hoje muito mais sentido do que fariam antes de vos ter conhecido. Há encontros felizes que não se explicam...
ResponderEliminarCom muito carinho e amizade.
Alice
FRÈRES DE TERRE
Je n’ai pas de frères de race,
j’ai des frères de condition,
des frères de fortune et d’infortune,
de même fragilité, de même trouble
et pareillement promis à la poussière
et pareillement entêtés à servir
si possible à quelque chose,
à quelqu’un, même d’inconnu,
à quelque frère de même portée,
de même siècle, ou d’avenir….
Je n’ai pas de frères de race,
ni de religion, ni de communauté,
pas de frères de couleur,
pas de frères de guerre ou de combat,
je n’ai que des frères de Terre
secoués dans la galère
des espoirs et désespoirs
des mortels embarqués,
des frères de rêves partagés
et de peurs trop communes.
Je n’ai pas de frères de race,
j’ai des frères de condition,
bien différents et très semblables,
d’ailleurs terriblement interchangeables
dans l’égoïsme
ou dans la compassion…
Des frères tout pétris de l’envie
de partager leur solitude avec le pain
et parfois le bonheur insigne
d’apprendre ensemble à dire non…
Je n’ai pas de frères de race,
mais des frères dans le refus
de n’être qu’un passant,
des frères par l’art et par le chant,
et l’énergie déployée chaque jour
à tenir tête au néant.
Des frères à travers les âges,
la géographie et les frontières,
- et qui sait même, au-delà de l’espèce,
peut-être un frère en tout vivant…
Michel Baglin
Un présent qui s'absente.
Editions Bruno Doucey
IRMÃOS DE TERRA
Eu não tenho irmãos de raça,
tenho irmãos de condição,
irmãos de fortuna e de infortúnio,
de idêntica fragilidade, de idêntica inquietação
e igualmente prometidos ao pó
e igualmente obstinados a servir
para alguma coisa se possível,
servir alguém, mesmo desconhecido,
qualquer irmão da mesma lavra,
do mesmo século, ou de um tempo por vir…
Eu não tenho irmãos de raça,
nem de religião, nem de comunidade,
não tenho irmãos de cor,
nem irmãos de guerra ou de combate,
só tenho irmãos de Terra
sacudidos na galera
das esperanças e desesperanças
dos mortais embarcados,
irmãos de sonhos partilhados
e de medos demasiadamente comuns.
Eu não tenho irmãos de raça,
tenho irmãos de condição,
bem diferentes e muito semelhantes,
aliás terrivelmente intermutáveis
no egoísmo
ou na compaixão…
Irmãos amassados pela vontade
de partilhar a sua solidão com o pão
e por vezes a felicidade insigne
de aprenderem juntos a dizer não…
Eu não tenho irmãos de raça,
mas irmãos na recusa
de serem apenas seres passantes,
irmãos pela arte e pelo canto,
e pela energia expandida em cada dia
na resistência ao abismo.
Irmãos através das idades,
da geografia e das fronteiras,
- e quem sabe, para além mesmo da espécie,
talvez um irmão em tudo vivo…
Michel Baglin
Um presente que se ausenta